Nome: Y'shyina
Idade: 17 anos
Sexo: masculino
Altura: 1.70 cm
Peso: desconhecido
Raça: Humano
Tribo: Okai
Origem: Vale das Sombras
Família: Cruelmente assassinada por Y'shyina
Habilidades: capaz de capturar a alma de um ser humano e com isto adquirir os conhecimentos da sua vítima.
Objectivo: Absorver o maior número de almas possível para saciar a sua infindável sede de conhecimento.
Notas: Perdeu a mãe, pouco depois de esta o ter dado á luz, devido a doença.
Alguns anos antes dos conflitos que levaram á queda de Valhala, numa altura em que a inveja e a ganância iam corrompendo o coração do reino dos deuses, uma tribo prosperava ao lado dos cavaleiros da Ordem de Valkyrie. O povo da tribo dos Okai era dotado de um poder extraordinário. Os homens desta tribo eram capazes de capturar a alma de um ser humano. Através deste processo conseguiam adquirir os conhecimentos que as suas vítimas haviam conquistado durante as suas vidas. As mulheres, ao que parecia, não tinham sido abençoadas com esse poder.
Os cavaleiros ficaram maravilhados com o poder dos Okai. Não levaram muito tempo a perceber que podiam fazer uso das habilidades da tribo para seu benefício.
Circulavam rumores perigosos no seio da Ordem. As pessoas falavam que a norte da capital se formava um exército de proporções gigantescas. No caso de os rumores serem verdade, os cavaleiros sabiam que se aproximava uma guerra. E ter os Okai como aliados nessa guerra poderia ser a arma decisiva para a vitória final.
A Ordem sempre tivera inimigos. Desde os primórdios do tempo que combatiam para proteger a terra dos deuses. Combatiam pequenas facções que não eram capazes de oferecer grande resistência. Evitavam assim que estas forças crescessem ao ponto de se tornarem perigosas, cortando desde logo o mal pela raiz. A norte, confirmando-se os rumores, era tarde de mais para intervir.
O processo levado a cabo pela Ordem de Valkyrie para transformar os Okai em poderosos e temidos senhores de guerra, só podia ser descrito como macabro.
Nas batalhas que travavam, os cavaleiros capturavam de entre a linha inimiga, os elementos mais fortes e mais capazes. Esses eram depois amordaçados, com os pulsos e os pés atados, impedidos assim de reagir, e levados aos Okai para que lhes fosse capturada a alma. No final do processo, restavam apenas carcaças de carne e osso desprovidas de vida. Homens espalhados pelo chão, de olhos esbugalhados e expressões aterradoras nos rostos.
Os Okai rapidamente se tornaram capazes de lutar como o mais forte dos guerreiros ou de lançar feitiços como o mais poderoso dos magos. Eram multifacetados e dominavam quase todas as artes.
A Ordem de Valkyrie estava extasiada com os seus novos cães de guerra.
Durante o Inverno os cavaleiros não saíram para o campo de batalha. O frio e os constantes nevões não o permitiam.
Dentro de pouco tempo começaram a surgir comportamentos estranhos em alguns membros da tribo dos Okai.
Cinco homens apresentavam sinais de demência. No início era frequente caírem no chão a tremer convulsivamente com espasmos que lhes percorriam o corpo, terminando com a perda de consciência. Murmuravam frases incoerentes e soltavam gemidos desesperados.
Ninguém conseguia explicar o que se estava a passar. Os homens afectados foram levados para a ala hospitalar e separados do que ainda se mantinham sãos.
Mais tarde, os espasmos cessaram. Um a um foram acordando dos seus sonhos tortuosos. Os olhos abriram-se lentamente. Olhos que não eram mais os mesmos. Eram vazios, frios e repletos de loucura.
Foi então que uma onda de terror assolou a Ordem de Valkyrie.
Os cinco homens deram início a uma matança sem precedentes. Fazendo uso das habilidades conseguidas através das almas absorvidas, foram rechaçando fileiras de cavaleiros, incapazes de reagir perante uma onda tão devastadora.
Matavam e mutilavam sem qualquer tipo de remorsos, exibindo um sorriso maquiavélico no rosto. Depois curvavam-se sobre os corpos inertes, levando uma mão, que reluzia com um verde fluorescente, ao peito da vítima e capturavam a alma, enquanto esta não passava do plano físico ao espiritual.
Era um estado de puro êxtase. Sentir aquela forca vital a percorrer-lhes as veias, tomar subitamente consciência de novos conhecimentos a invadir-lhes a mente retorcida. Não podiam parar ali. Tinham de absorver mais almas, sentir tudo novamente. A sede era insaciável.
Muito sangue foi derramado nesse dia e muitas vidas se perderam.
Os Okai combatiam como deuses, mas eram apenas cinco contra centenas de cavaleiros. Acabaram por ser encurralados e mortos sem piedade mas não antes de levar algumas dezenas de homens consigo.
Foi um dia negro para a Ordem de Valkyrie.
Os eruditos da Ordem, depois de estudarem em pormenor os acontecimentos passados, acabaram por desenvolver uma teoria que explicava que os Okai não podiam absorver um número infindável de almas sem que isso os levasse á loucura e á obsessão pela busca de conhecimento, tornando-os irracionais ao ponto de não distinguirem sequer os seus aliados. Existia um limite e este não podia ser excedido.
Os restantes Okai que não tinham sucumbido á loucura ficaram com receio do seu poder. O líder da tribo, um homem forte, de cabelos ruivos desgrenhados e olhos vivos, ordenou aos seus feiticeiros que lançassem uma maldição. A partir daquele dia, se um homem da tribo lutasse ou absorvesse a alma de outro homem, a sua alma seria torturada pelos deuses para toda a eternidade.
Os Okai, viajaram mais tarde, a pedido dos cavaleiros, para o Vale das Sombras. O vale era uma terra misteriosa, um sitio apenas conhecido pelos membros da Ordem de Valkyrie. Lá permaneceriam para o resto das suas vidas. Ali ficariam isolados do mundo e em segurança. Nunca mais teriam de fazer uso daquele poder macabro e mais ninguém se aproveitaria deles, como haviam tentado fazer, para seu grande arrependimento, os membros da Ordem.
Oito anos passaram. Acabara de explodir uma guerra de grandes proporções mas no vale ninguém tinha conhecimento da sua existência.
Naquele lugar distante de tudo, a vida seguiu o seu rumo. Os dias eram calmos e alegres.
Y'shyina era o único filho de Sertnak, o líder da tribo. Tinha os mesmos cabelos do pai, ruivos, da cor do fogo e um olhar astuto e observador. Era alto para os seus quinze anos de idade e extremamente magro. O povo da aldeia achava o rapaz estranho. Era diferente dos outros miúdos da sua idade. Raramente falava com alguém, preferindo isolar-se e estar sozinho no seu canto sem ninguém para o incomodar.
Quando falava, o seu o tom da sua voz era sarcástico e o olhar com que encarava as pessoas era intenso e incomodativo, como um predador que observa a sua presa antes de atacar.
Tinha por habito deitar-se sobre as sombras dos carvalhos e ali passava os dias, perdido em pensamentos e sonhos que não partilhava com ninguém.
Y´shyina era uma criança amargurada e repleta de uma ambição desmedida.
Era ainda muito novo quando a sua tribo se instalara no vale. Na altura não tivera consciência do que havia acontecido. Agora, já praticamente um homem, não era capaz de compreender por que razão se haviam escondido do mundo e renegado um poder que era certamente uma bênção dos deuses.
Como é que o seu pai fora capaz de tomar tal decisão. Destinar o povo mais forte de Valhala a uma vida sem sentido naquela terra de ninguém.
Nunca o perdoaria por isso.
Pensara várias vezes em fugir mas as suas esperanças caíram por terra depois de saber que apenas os cavaleiros da Ordem de Valkyrie sabiam o caminho para entrar e sair daquele vale. As montanhas que o rodeavam eram misteriosas e escondiam muitos perigos. Nunca seria capaz de sobreviver.
Ansiava doentiamente por uma oportunidade para abandonar aquele lugar. Quando começou a pensar que esta nunca chegaria, algo aconteceu.
Foi tudo muito rápido. Era noite quando o vale foi subitamente invadido por criaturas vindas das trevas. Estas vestiam-se de preto e traziam os rostos escondidos par máscaras esquisitas. Um dos exércitos dos dez Oráculos acabara de entrar no Vale das Sombras. Tinham de alguma forma descoberto o caminho e sabiam exactamente o que ali encontrar. Começaram a deitar fogo ás casas. Os habitantes apanhados de surpresa saíam a correr para o exterior, tossindo desesperadamente. A determinada altura, todos os Okai que haviam sobrevivido ao fogo, estavam reunidos numa pequena clareira rodeados pelos invasores. Entre eles encontrava-se Y´shyina abraçado fortemente pelo seu pai num gesto protector. O jovem observava tudo com muita atenção, os seus olhos de leopardo captando todos os movimentos, o seu coração batendo desenfreadamente. Algumas mulheres e crianças choravam á sua volta. Os homens estavam de joelhos no chão e não reagiam. Não podiam combater. A maldição não o permitia.
Um dos homens vestidos de negro que os rodeava, avançou na direcção deles. Tinha umas longas tranças que lhe caíam sobre os ombros largos e dançavam ao sabor do vento. Era uma montanha de músculos protuberantes. Às costas transportava um enorme machado de gumes afiados e da cintura pendiam-lhe várias facas de pequena dimensão.
Caminhou vagarosamente com passos pesados que se enterraram na terra lamacenta. Parou a uns dez passos de Y´shyina que estremeceu perante aquela figura imponente.
Então, o homem falou, com uma voz cavernosa que ecoou pelo vale.
Os novos senhores de Valhala exigiam que os homens da tribo dos Okai prestassem vassalagem e fizessem uso dos seus poderes para assistir os seus exércitos no campo de batalha. No caso de aceitarem, as mulheres seriam poupadas e levadas como escravas para norte. Caso contrário toda a tribo seria apagada do mapa antes de o dia nascer.
Ninguém falou. A decisão estava tomada. Era o fim.
Os invasores desembainhavam as armas preparando-se para o banho de sangue, quando subitamente alguém se levantou no meio dos Okai e avançou a correr na direcção do homem do machado. Ouviram-se gritos de surpresa e espanto no meio da multidão de onde este saíra. De entre eles, alguns homens praguejaram e cuspiram para o chão. Sertnak estava pálido e olhava descrente, com os olhos marejados de lágrimas, para o seu filho.
Y´shyina não olhou para trás. Ele e o outro homem afastaram-se para falar. Uma conversa de sussurros que apenas durou alguns instantes. Uma frase foi levada por uma brisa suave até aos ouvidos de Sertnak.
“prova-me que agora és um dos nossos!”
Y´shyina recebia nas suas mãos de dedos finos e delicados um pesado machado de guerra. O homem que lho entregara havia tirado a mascara e sorria maliciosamente.
O jovem segurou a custo a arma com as duas mãos e avançou na direcção da gente da sua tribo. Parou junto de Sertnak que lentamente levantou a cabeça para olhar nos olhos do seu filho. Uma troca de olhares gélidos. Pela primeira vez o pai não era capaz de aguentar o olhar do filho e deixou cair a cabeça, com lágrimas a correrem-lhe pelo rosto. Y´shyina fitara-o com um olhar repleto de ódio, rancor, completamente desprovido de amor. Não era o seu filho que estava diante dele. Aquele rapaz mudara há muitos anos atrás e ele nunca o percebera. Como é que nunca se apercebera dessa mudança!? Agora era tarde. A morte seria bem-vinda naquele momento.
Y´shyina levantou o machado e falou:
- “Sempre foste fraco. Nunca serei como tu!”
O metal cortou o vento a uma velocidade alucinante.
Ouviu-se um baque e algo redondo rebolou pela terra.
Y´shyina deu meia volta, com o braço a irradiar uma côr verde fantasmagórica e acompanhado pelo homem do machado desapareceu nas sombras da noite...